quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O VAZIO DO MEU EU




Há dias que eu não sou eu, e que a vida parece mais amarga mesmo quando tudo em volta parece normal. E nestes dias enquanto os pássaros cantam na alvorada anunciando um novo dia, no meu eu, ainda é noite.

E quando o sol, rompendo o crepúsculo da manhã com seus raios fortes como quem sorrindo para iluminar a todos e banhar a terra de luz, o meu eu está nublado, com nuvens espessas e escuras.

Isso me faz lembrar o principio de tudo, quando a terra era sem forma e vazia, e o espírito de Deus se movia sobre a face do abismo. Assim o meu espírito inquieto se move dentro do vazio que há em mim, e o meu coração parece o mais distante planeta da galáxia aonde a luz do sol não chega, a escuridão reina e tudo é gelado.

Nestes dias, as flores perdem as cores, a beleza, o perfume. Não deixo de sorri, nem finjo um sorriso, mas o meu sorriso é triste e nem sei por quê! Ando entre a multidão e me sinto só, meus passo me levam aonde tenho que ir, e não aonde gostaria de ir, apesar de não saber onde quero chegar.

Martirizo-me com as perguntas, sem respostas, e com os sentimentos sem sentidos.

Não me entendo, quando quero tanto ser amado, ouvir alguém falar que me ama me fazer um carinho, um abraço, um cafuné, me pegar no colo como seu eu ainda fosse uma criança, mas a pessoa que faz tudo isso, parece que não causa efeito. Sou duro como uma pedra, e oco como uma árvore seca em um deserto solitário.

Penso que sou ingrato com a vida, com o que a ela me dá com o que tenho. Penso que muitas pessoas desejam ter metade do que eu tenho para se feliz, e eu que tenho tudo, ou quase tudo, ainda não acho o suficiente. Na verdade o suficiente não tudo, é apenas uma pequena parte, que não sei em que parte do tudo ela se encontra. Procuro algo que tire de mim esta angústia que me chicoteia nestes dias, mas é em vão. A felicidade que eu quero o dinheiro não compra, amor que eu desejo a beleza não conquista, as palavras que eu quero ouvir os intelectuais não falam, o carinho quero, as mãos que me tocam não fazem.

Nestes dias, eu me pergunto: onde está o amor que os poetas cantam? Que sabor tem os beijos de sua musa? Onde encontram palavras tão lindas? E nestes dias vazios, percebo que a minha alma implora por um beijo, mas não o beijo que a minha boca recebe. Suplica migalhas de carinhos sem mesmo saber de quem. E é na inquietação do meu espírito no vazio do meu eu, eu não sou eu, e a vida parece mais amarga. Percebo que o que eu procuro é tão simples, mas tão simples, e estão nas coisas tão simples, que quando encontro não me entrego, não por medo, mas porque são apenas regras imposta pelo mundo que vivo, pela sociedade, talvez válida para o corpo, mas de nenhum proveito para alma.

A liberdade ou prisão do espírito é contrária a liberdade ou prisão do corpo. E quando estes dias passam eu volto a ser o eu que a sociedade quer que eu seja, mas que não é o eu, que eu gostaria de ser, nem o eu, que me faz feliz. E assim a felicidade me aparece como rabiscos mal escritos, sem critérios, sem valor. E nestes dias onde o meu eu é tão vazio, talvez seja os dias em que sou mais cheio de vida e mais próximo da felicidade.


Francis Gomes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário