segunda-feira, 30 de setembro de 2013

MAIS UM CORDEL, TRECHOS DO CORDEL QUE DESCREVE A BELEZA E RIQUEZA DO SERTÃO

O Sertanejo

Sei que não vou fazer feio
Pois só sei fazer bonito
Eu nasci em Assaré
Vivi em Farias Brito
E conheci Patativa
Poeta de voz ativa
Que do sertão era o grito

Por isso quero falar
Nesta mesma ocasião
O cordel o sertanejo
De minha própria invenção
Um cartão de boas vindas
Falando das coisas lindas
Que existe no meu sertão

Seu doutor sou sertanejo
Num sei ler mais eu pelejo
Fazer meu verso rimado
Às vezes num sai direito
A rima num sai perfeito
E o verso fica quebrado.

Patativa do Assaré
Nosso poeta de fé,
Que Deus tenha lá em cima.
Disse que no mês de maio
Nasce um verso em cada gaio,
E em cada flor uma rima.

Que poeta de valor
Num precisa professor
Pra lhe ensinar a rimar.
Ser poeta é dom e arte
Da obra de Deus faz parte,
Quando nasce Ele já dar.

Num preciso de cultura,
Ciência ou boa leitura,
Pra falar do meu sertão.
Tenho tudo que preciso,
Pois é mesmo um paraíso
O meu pedaço de chão.

De modo que levo a vida
Cuidando da minha lida
Mesmo sem ter estudado.
Mas falo de coração
Nas coisas do meu sertão
Eu sou um doutor formado.

Da terra eu conheço bem
De tudo que ela tem,
Tiro sempre bom proveito.
E o senhor é um marombado
Fica a botar mal olhado
No que não sabe direito.

Eu vou falar a verdade
Num conheço a cidade,
Mas isso não me aperreia.
Pois conheço meu sertão
Por cada palmo de chão
E cada grão de areia.

E duvido que o senhor
Com seus trajes de doutor
Seu lugar conheça bem.
Como eu conheço o sertão
Como a palma da mão
E tudo que nele tem

Desde a rama rasteira
Até a mais trepadeira
E a sua utilidade.
E o senhor com seu saber!
Eu duvido conhecer,
Cada rua da cidade.

Sei o nome de cada mato:
Mofumbo unha -de -gato,
Aveloz e marmeleiro,
Jurema, angico, aroeira,
O velame a catingueira
A melosa e o salgueiro.

Muitos tipos de cipó,
Pau pereiro, pau mocó,
Que é verde a seca inteira.
Oiticica e jatobá,
Madeira nova, e sabiá
Sem falar da cajazeira.

Os três tipos ipê
E falo pra vosmecê
Com toda sinceridade
Que quando eles florescem,
Seu moço até parecem
O trono da divindade

Meu tempo num vou perder
Tentando lhe convencer
De tudo que tem aqui.
Dos tipos de animais,
Das ervas medicinais
Que o senhor não tem aí...
...E as nossas árvores fruteiras?
Seriguelas, mangueiras,
Pitombeiras, cajueiros,
Graviola, pinha, condessa,
E antes que eu esqueça,
Vários tipos de umbuzeiros.

...Também tem a carnaúba,
Goiabeira, macaúba,
Mutamba e tamarina.
Ameixa e limão da terra,
E ás vezes  no pé da serra,
Algum pé de tangerina...

Dos Passarim cantador
Que vosmecê seu doutor
Num sabe nem se existe.
Eu conheço todos eles
E também o canto deles
Desde o alegre ao mais triste...

Francis Gomes.



sábado, 28 de setembro de 2013

Histórias e tradições da literatura de cordel

Por Blog Acesso

Marcelo Mario de Melo é poeta e cordelista. Quando pequeno, acompanhava a mãe nas feiras de rua do Ceará e escutava romances cantados pelos vendedores de cordéis. Quando aprendeu a ler, passou a contar histórias para os adultos, empregados de sua casa, que não dominavam a leitura e a escrita. Aos 14 anos, Melo foi morar no Recife (PE), onde se aproximou do universo dos cordéis pelo contato com os folhetos vendidos nos mercados de Boa Vista e São José. Passou a escrever e durante toda sua trajetória esteve acompanhado desta literatura tipicamente nordestina, mas que chegou ao Brasil por meio dos europeus e está presente em diversas partes do país.
Os cordéis são expostos em barbantes, nos quais ficam suspensos, e são comercializados, predominantemente, em regiões populares. No Nordeste, o contato é mais frequente e, muitas vezes, começa na infância. “O universo da literatura de cordel brasileira é povoado de histórias das tradições oral e escrita procedentes da cultura europeia. Ele firmou-se na cultura brasileira – e vem sendo construído continuamente – com o esteio de todo o universo simbólico e imaginário da cultura nordestina”, explica a pesquisadora e responsável pela coordenação de pesquisa doMuseu de Arte Popular do Recife, Maria Alice Amorim.
Melo lembra que lia as histórias de João GriloCanção de fogo com Pedro Malazarte, CamõesO Romance do Pavão Misterioso, entre outros. “O primeiro contato com o cordel foi oral, depois veio a escrita. Quando fui morar no Recife comecei a reler os folhetos, quando adolescente, e segui na fase adulta. Mas eu não fiquei marcado exclusivamente pelo cordel, acompanhei a era do boom dos gibis, comSuperman e todos os super heróis. Sou bom de misturar forró e rock”, conta Melo.
Já a pesquisadora começou a se interessar pelo cordel durante a adolescência, nas aulas de literatura brasileira, com uma professora cearense. O gosto do período escolar tornou-se objeto de estudo em 1980, quando Amorim passou a viver no Recife. “O cordel é uma poética de tradição oral, que se mantém viva, dinâmica, vigorosa, em processo. A relação com as novas tecnologias, a atuação de jovens escritores, a inserção de novos temas, a difusão mediante múltiplos meios, a formação e adesão de novos públicos, tudo isso demonstra como a literatura de cordel é cultivada no mundo contemporâneo. Sem perder características seculares, o cordel se adapta às demandas da contemporaneidade”, conta.
O também poeta e cordelista Francis Gomes mora na cidade de Suzano (SP), mas nasceu em Assaré (CE) e começou a ter contato com o cordel aos oito anos de idade, no sítio em que morava com pais. “Eu fui para a cidade estudar e, nas férias, quando eu voltava para ficar com eles, o pessoal pedia para eu ler os cordéis. A partir disso, sempre que eu voltava a história se repetia e eu passei a tomar gosto pela literatura de cordel. Além disso, como eu nasci na mesma cidade do Patativa do Assaré, eu sempre ouvi os programas em que ele recitava os poemas, os cordéis e a poesia matuta”, conta Gomes.
Gomes escreve contos e crônicas desde os 14 anos, mas começou a escrever literatura de cordel em 2007, com a história O Caipira Feio e a Acadêmia I.“Normalmente, quando eu escrevo cordel eu tenho dois objetivos principais: enaltecer a cultura nordestina e o povo nordestino. A partir daí, eu utilizo em quase todos os cordéis o linguajar regionalista, matuto mesmo. Nos meus primeiros cordéis é possível observar que há palavras erradas, mas faço de maneira proposital para retratar como o caipira fala”, explica.
Inicialmente, o cordel era feito por moradores da zona rural, mas, segundo Melo, a cultura tem se renovado e a literatura aborda novas temáticas comportamentais, acompanhando a atualidade. “Na década de 50, os cordelistas passaram a falar sobre fatos que ocupam as manchetes de jornais, sobre o que estava na mídia. Hoje, tem muita gente fazendo cordel na área urbana, com nível universitário e que teve influência dessa cultura. São cordéis que tratam de temáticas urbanas e questões da atualidade. Aqui temos, por exemplo, a Unicordel, movimento urbano que promove várias ações e desafios pela internet”.
Em São Paulo, Gomes atende diversos públicos, realiza palestras em escolas e participa de saraus que são realizados na cidade. “Nos meus cordéis, eu utilizo muito a linha cômica. É uma das formas de tocar as pessoas e atingir todos os públicos. A literatura de cordel se expandiu mais no Nordeste em forma de repente e embolada porque as pessoas não sabiam ler, então, para criar os seus cordéis, elas memorizavam. Hoje, é raro encontrar um cordelista que não seja de origem nordestina, ou que não tenha conhecido o cordel por seus pais ou avós”, explica.
Maria Alice Amorim reuniu um acervo com mais de 7300 obras de literatura de cordel. Hoje, todos os cordéis estão catalogados e as informações disponibilizadas no siteCiberteca de Cordel. “Decidi digitalizar e disponibilizar o meu acervo de cordel por considerar imprescindível oferecer acesso a pesquisadores e interessados. Para mim, pesquisadora, não faz sentido juntar esses preciosos documentos apenas para guardar, pelo fetiche do objeto. Além disso, é um material de uma riqueza inesgotável, uma pessoa jamais daria conta sozinha das inúmeras possibilidades do olhar curioso e atento sobre esta expressão artística”.
Nos cordéis, a linguagem poética, rimada e metrificada, aborda temáticas bastante diversificadas, explica Amorim. “Os temas abrangem ampla variedade, passam pelas histórias de cavalaria, contos orientais, romances de príncipe e princesa, narrativas tradicionais encontradas nos contos populares do mundo inteiro. Também todo o universo peculiar à cultura nordestina, com cangaceiros, beatos, anti-heróis, personagens, costumes, folguedos, danças, enfim, expressões artísticas das tradições culturais. Os assuntos mais explorados ainda hoje são os ‘acontecidos’, os ‘noticiosos’. Isso é curioso que se mantenha mesmo quando são hoje tão amplas as possibilidades de registro e difusão de notícias”.
Indicações de clássicos da literatura de cordel
Viagem a São Saruê; O pavão misterioso; O cachorro dos mortos; A Princesa da Pedra Fina; A Princesa sem coração; A bela adormecida no bosque.
Vídeos
http://vimeo.com/54583424
http://www.youtube.com/watch?v=6dKQTRQH3EU
Pamella Indaiá/Blog Acesso

histórias e tradições da literatura de cordel

Acesso


Leiam entrevistas com vários cordelista, inclusive eu Francis Gomes, para a repórter Pamella Indaiá.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

SARAU NA ESCOLA LUIZ BIANCONI 26/09/2013


A toda galera do Luiz Bianconi, alunos, professores e funcionários em geral, que e participou do nosso sarau, muito obrigado pela forma como nos acolheu obrigado pela participação, pelo silêncio e os aplausos. São pessoas como vocês que me inspiram cada dia fazer o meu trabalho cada dia melhor. É esta energia que o artista busca quando faz uma palestra, uma apresentação. Isso nos mostra que ainda há uma esperança e que a literatura com certeza pode fazer toda diferença e mudar a forma de pensar das pessoas.
Um abraço e um beijo do coração de todos vocês.

Francis Gomes


























quarta-feira, 25 de setembro de 2013

MAIS UM CORDEL DA RETROSPECTIVAS DAS 20 HISTÓRIAS

Longe da globalização

Eu nasci num pé de serra
Nos confins do Ceará
Sou caipira sim senhor
Não nego meu naturar
Matuto do pé rachado
Analfabeto acanhado
E nunca pude estudar

Ser cearense é um orgulho
E ser caipira também
Mas tenho uma tristeza
E não escondo de ninguém
Por nunca aprender ler
Eu nunca pude escrever
Sobre as belezas que nois tem...


...Com minha arte discreta
Como eu não sei escrever
Tenho que decorar
Tudo aquilo que eu intento
Falar sobre meu lugar
Das belezas do sertão
Das coisas do coração
E do meu lindo Ceará
  
Porque nois é professor
Mas só mermo aqui no mato
Pois quando vai a cidade
Nois até parece um pato
Fica todo abobaiado
Como um bicho encurralado
Sem ter noção dos seus atos.


Fica todo assustado
E logo se perde a carma
Pois caipira na cidade
É como um corpo sem alma
Como um trem fora do trilho
Uma luz que não tem brilho
Com peixe fora d’água.

Para que vocês não pensem
Que eu estou inventando
Eu vou mostrar uma prova
Do que eu estou falando
Não sucedeu com um amigo
Isto aconteceu comigo
Portanto vão me escutando

De modo que eu vou falar,
É muito ruim ser tapado,
Digo ser muito tímido
Vergonhoso, acanhado
E se for analfabeto
É um boboca completo
Neste mundo globalizado...


Meu pai era o meu livro
E a terra meu caderno
E tudo que eu aprendi
Tornou-se um tesouro eterno,
Mas não era o suficiente
Pra viver descentemente
Num mundo hostil e moderno...


...Eu gostava de uma moça
Que se chamava Janete
Mas ela gostava mermo
Que eu lhe chamasse de Nete,
Filha de seu Jacobina
E de dona Dorvelina
Irmã Gêmea de Ivonete.

Entre o que eu mais gostava,
Andar  pela mata verde
Tomar banho no rio
Na fonte matar a cede,
E juntinho com a Nete
Grudadinho igual chiclete
Se balançar numa rede...

...Zequinha nem parecia
Aquela criança arcaica
Estudou muito e se tornou
Uma pessoa pragmática
Pois imagine vocês
Dava aula de inglês
E ciência da informática...


Zequinha disse my friend
Vamos entrar na net,
Eu pensei vala me Deus
Ele conhece Janete,
Mas não deu pra entender
O que ele quis dizer
Com vamos entrar na net!

Pior quando  ele falou:
Nós navegamos  na rede,
Rapaz eu mudei de cor
Fiquei branco fiquei verde
Pois a surpresa foi tanta
Me deu um nó na garganta
Que comecei sentir sede.


E continuou falando
O que na net fazia.
Fazemos sexo na rede,
Não diga que sabia?
Eu pensei fia da puta
Dando uma de matuta
E a desgraça me traia...


E a história continua quer ver o final e estrofes que faltam adquira o cordel.


 tchekos@ig.com.br
www.poetafrancisgomes.blogspot.com

Francis Gomes

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Nesta sexta-feira!

LANÇAMENTO


Sarau LiteraturaNossa lança Vídeo Literatura II nesta sexta-feira (20)

Vídeo traz escritores, poetas e cronistas (de Suzano) interpretando seus próprios textos em diversos ambientes, entre eles uma casa, um cemitério, um terreiro e as ruas do Jd. Revista.

A Associação Cultural Literatura no Brasil lança nesta sexta-feira (20), no Jardim Revista, em Suzano, a partir das 19h30, no Sarau LiteraturaNossa, a 2ª edição do Vídeo Literatura.

Realizado em parceria com o Ministério da Cultura, o projeto foi roteirizado e interpretado por membros da associação, que interpretam os próprios textos.

A iniciativa une o audiovisual e a literatura e é uma forma de difundir a leitura. Na próxima semana, 300 escolas estaduais devem receber gratuitamente cópias do vídeo.

Segundo o escritor Ademiro Alves, o Sacolinha, que idealizou o projeto em 2007, a iniciativa busca ampliar as possibilidades de contato com o universo da literatura por meio de outros formatos e em novas mídias.
“Procurávamos investir em novas mídias para o incentivo à leitura. Então começamos a incluir poesias de vários escritores em cd’s e em vídeo. Dessa forma conseguimos atingir um público maior ainda, já que além do leitor ávido atingimos também aqueles que têm preguiça ou não conseguem chegar na metade da leitura de um livro”, afirma Sacolinha.

A poetisa e presidenta da associação Débora Garcia destaca a importância do projeto para a difusão do livro e da leitura. “Circulo por muitos coletivos culturais em São Paulo e tenho contatos com outros Estados e não vejo um projeto semelhante sendo realizado. Isso é ousadia”.

O vídeo terá um preço especial de lançamento. Quem comparecer ao sarau poderá adquirir o DVD pelo valor de R$ 5,00. Todo o recurso arrecadado com as vendas será revertido para projetos da própria associação.

O sarau LiteraturaNossa é realizado toda terceira sexta-feira do mês e conta com a presença dos moradores do bairro e de pessoas de fora da cidade, com apresentações de poesia, música, cinema, teatro e dança. Nos intervalos, há sorteios de livros, revistas, vídeos, CD's e camisetas.

Interessados em se apresentar no sarau devem chegar com 30 minutos de antecedência. Mais informações no número 98950-9446, com Débora Garcia.

O Sarau LiteraturaNossa de setembro acontece na Rua Itapeva, 30, Jd. Revista, em Suzano (padaria Cantinho da Irmã).

SERVIÇO
Sarau LiteraturaNossa
20/09/2013 (sexta-feira) às 19h30
Local: Padaria Cantinho da Irmã

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

ABRAÇO CORDELIAL A TODOS


Estrofes do meu segundo cordel.

Malandro

 Eu, um cearense arretado
Analfabeto, acanhado,
Que mal aprendi ler.
Com meu primo Evandro,
Fomo da uma de malandro,
Veja onde fui me meter.

Morando no Ceará,
Nois só falava por lá
Usando a língua da gente,
Num é que seja esquisita,
Mas quem nos faz uma visita,
Ver que é um tantim diferente.

Cumode, promode, pro donde,
Prá quê, pro quê, pra donde,
E querendo aprender gíria.
Eu e o primo Evandro,
Ainda se achava malandro...
Falando estas aresia.

Era coisa de família,
Fazendo tanta estripulia
Ainda dava uma de valente.
Com uma peixeira na mão,
Prá arrumar confusão,
Era só mexer com a gente.

Por exemplo, meu vô zuca,
Nervoso igual uma mutuca,
Vivia arrumando intriga,
Ô bichim tu venha cá,
Num vem não nontoce vá,
Seu filho de rapariga.

Papai era diferente
Vivia aconselhando a gente
Pra não fazer nada errado
Não gostava de intriga
E quando eu arrumava briga
Ficava muito zangado

Ele dizia lá em casa,
Formiga que cria asa,
Procura o que num perdeu.
Apois bem chegou à hora,
Que eu resolvi ir embora
Levando o Evandro com eu.

Como se eu ouvisse
Papai ainda me disse
Filho tu tome cuidado
Porque você e Evandro
São caipira, não malandro
Você está enganado

O mundo é bem diferente
Daqui da terra da gente
Que todo mundo lhe ama.
Eu até ouvi dizer
Tem gente que sabe ler
E falar outro idioma.

Aqui é o seu terreiro
O mundo é um grande poleiro
Onde outro canta de galo
E você ó meu filhinho
Vai ser apenas franguinho
Escute o que eu te falo

Mas eu todo chei de panca
Comecei a botar banca
Zombando da cara dele.
Achando que era sábio
Dando uma de otário
Arrespondi para ele

O senhor pode está certo
Mas eu sei que sou esperto.
E ajuntando meus trapos,
Ainda disse papai
Toda cobra que num sai
Não aprende engolir sapos.

Mal eu tava sabendo,
Deus tudo estava vendo
E seu castigo num falha
E todo filho que sai
Sem escutar mãe e pai
Ele sempre se atrapalha.

Fomo pro Rio, de Janeiro,
Trabalhemo um mês inteiro,
Só pra entrar pelo cano.
Eu e o Evandro, analfabeto,
Fomo da uma de esperto,
Numa boate de americano.

Falando um tal de: corta essa,
Ai mano, eu tô nessa,
Manda ver. Qual é a tua?
Tô de boa é minha sina,
Vou descolar uma mina,
Prá da um role na rua.

Sem carro, prá começar,
Um taxi fomos pegar,
Paguei uma grana infame.
E logo ao ir chegando,
Vi num letreiro piscando,
American’s drinks, welcome.

Já fiquei meio cabreiro,
Vendo naquele letreiro,
Dizendo que wel come.
Vala meu Deus do céu,
Quem diabo é este wel,
Que está com tanta fome!

Como um cachorro assustado
Olhando pra todo lado
Eu fui me aproximando.
Quando mais perto eu chegava
Mais o letreiro piscava
Como que me convidando.

Tava escrito em uma porta,
Com uma letra meio torta
Push, enter, and have fun.
Enquanto eu estava puxando,
Chegou uma bichinha falando:
Excuse-me, excuse-me honey.

Dei-lhe uma bofeta,
Que ela caiu sentada,
-Help me, help me please.
Mas num tem mermo que apanhar,
Pois queria me agarrar,
Ainda pergunta o que fez.

Eu já todo apoquentado,
Chegou outro apalermado:
Excuse-me guy, thenk you.
Sujeito mal educado,
Vá você seu desgraçado,
É esta a educação do sul?

Apois veja seu menino,
Ainda dizem que nordestino,
É quem num tem educação.
Um sujeito bem trajado,
Até bem aparentado,
Me falando palavrão.

O Evandro nesta hora,
Me chamando prá ir embora,
Se borrando como nunca.
Com toda minha educação,
Eu falei agora não,
Vou entrar nesta espelunca.

Sem esta de meia vorta,
Dei um empurrão na porta,
E acertei sem querer.
Num era prá puxar,
O tal push, é empurrar,
Mas como eu ia saber?

Rapaz, mas quando eu entrei,
Num vou mentir, me assustei,
Quase que me mijava.
Era uma papagaiada,
Eu num entendia nada,
Que aquela gente falava.

Excuse me, sorry, I don’t know,
Bye, good -bye, let’s go,
Good, nice, beautiful, em fim,
Evandro, ele falou pra eu,
Bichim nois já morreu,
E tamo com o coisa ruim.....


Francis gomes.
tchekos@ig.com.br
www.poetafrancisgomes.blogspot.com