quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A realidade da vida

 Eu não considero-me um poeta, mas acredito que sou apenas um dos abeçoados que Deus consedeu a alegria de poder  conversar comigo mesmo, desabafar para o papel, falar das emoções, tanto minha como de outros, rasgar meu coração e pintá-lo nas atraves das entrelinhas de minha poesia, meu cordel, meus rabiscos. Gosto de ser eu mesmo, tenho meu estilo, e todos aqules que lerem algo meu, quero que sintam o que eu sinto e percebam que foi um patriota nordestino que se orgulha de suas raizes, do seu povo e sua cultura.




Também sou gente





Muitos por serem formados

Com alguns livros publicados,

Julgam-se superiores.

Mentirosos desalmados

Não aceitam que os favelados,

Também se tornem escritores.



Eu falo sem ter vergonha,

Se não posso ser montanha,

Sou uma pedra no sapato.

Mas eles querem que eu morra,

Seja um atleta e não corra,

Apanhe e fique calado.



Eu vejo a morte de perto,

E me dizem que não é certo

Falar da minha desgraça.

Sou tratado como um bicho

Me alimento de lixo,

E durmo em banco de praça.



Chamam-me de vagabundo,

Pé inchado, porco imundo...

Por que não vai trabalhar?

Bêbado pela a esquina

Coloca a culpa na sina,

Tem mesmo é que se ferrar...



Mas eu vou fazer o que?

Eu nunca aprendi ler,

Trabalho ninguém me dá.

Mas imagine você,

Não tenho nem pra comer,

Como é que eu vou estudar?



Escola eu não conheço,

Faculdade eu desconheço...

Só vejo os outros falar,

O que eu passo é desumano,

E os direitos humanos,

A onde diabo ele estar?



FEBEM de Tatuapé,

Cadeião de Sumaré,

Pode ver ta tudo lá.

Bandidos eles defendem,

Pobres para eles fedem,

É ou não é de lascar?



Este é o nosso regime,

Se o homem comete um crime,

Tem o estado para cuidar.

Enquanto é negligente,

Matando o povo inocente

Porque não quer ajudar.



E querem que eu me cale,

Morra e nada fale,

Afinal, lixo não fala...

Mas eu sou lixo orgânico,

Daquele que causa pânico,

E a nação se abala.



Por isso eu falo, falo e falo...

Morro e não me calo,

Sou mesmo um bicho,

Daqueles que tudo come,

E pra não morrer de fome,

Precisa viver do lixo.



Restos de comida, peixes crus,

Disputo com os urubus,

Vira lata, varejeira, em fim,

Onde o dinheiro domina,

O que o homem abomina,

É o que sobra pra mim.



Ei, sou pobre, sou desprezado,

Vivo por ai largado,

Sou mais um sobrevivente.

Sei que pareço com um bicho,

Me alimento de lixo,

Mas lembrem, também sou gente.









Francis Gomes

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