quarta-feira, 25 de setembro de 2013

MAIS UM CORDEL DA RETROSPECTIVAS DAS 20 HISTÓRIAS

Longe da globalização

Eu nasci num pé de serra
Nos confins do Ceará
Sou caipira sim senhor
Não nego meu naturar
Matuto do pé rachado
Analfabeto acanhado
E nunca pude estudar

Ser cearense é um orgulho
E ser caipira também
Mas tenho uma tristeza
E não escondo de ninguém
Por nunca aprender ler
Eu nunca pude escrever
Sobre as belezas que nois tem...


...Com minha arte discreta
Como eu não sei escrever
Tenho que decorar
Tudo aquilo que eu intento
Falar sobre meu lugar
Das belezas do sertão
Das coisas do coração
E do meu lindo Ceará
  
Porque nois é professor
Mas só mermo aqui no mato
Pois quando vai a cidade
Nois até parece um pato
Fica todo abobaiado
Como um bicho encurralado
Sem ter noção dos seus atos.


Fica todo assustado
E logo se perde a carma
Pois caipira na cidade
É como um corpo sem alma
Como um trem fora do trilho
Uma luz que não tem brilho
Com peixe fora d’água.

Para que vocês não pensem
Que eu estou inventando
Eu vou mostrar uma prova
Do que eu estou falando
Não sucedeu com um amigo
Isto aconteceu comigo
Portanto vão me escutando

De modo que eu vou falar,
É muito ruim ser tapado,
Digo ser muito tímido
Vergonhoso, acanhado
E se for analfabeto
É um boboca completo
Neste mundo globalizado...


Meu pai era o meu livro
E a terra meu caderno
E tudo que eu aprendi
Tornou-se um tesouro eterno,
Mas não era o suficiente
Pra viver descentemente
Num mundo hostil e moderno...


...Eu gostava de uma moça
Que se chamava Janete
Mas ela gostava mermo
Que eu lhe chamasse de Nete,
Filha de seu Jacobina
E de dona Dorvelina
Irmã Gêmea de Ivonete.

Entre o que eu mais gostava,
Andar  pela mata verde
Tomar banho no rio
Na fonte matar a cede,
E juntinho com a Nete
Grudadinho igual chiclete
Se balançar numa rede...

...Zequinha nem parecia
Aquela criança arcaica
Estudou muito e se tornou
Uma pessoa pragmática
Pois imagine vocês
Dava aula de inglês
E ciência da informática...


Zequinha disse my friend
Vamos entrar na net,
Eu pensei vala me Deus
Ele conhece Janete,
Mas não deu pra entender
O que ele quis dizer
Com vamos entrar na net!

Pior quando  ele falou:
Nós navegamos  na rede,
Rapaz eu mudei de cor
Fiquei branco fiquei verde
Pois a surpresa foi tanta
Me deu um nó na garganta
Que comecei sentir sede.


E continuou falando
O que na net fazia.
Fazemos sexo na rede,
Não diga que sabia?
Eu pensei fia da puta
Dando uma de matuta
E a desgraça me traia...


E a história continua quer ver o final e estrofes que faltam adquira o cordel.


 tchekos@ig.com.br
www.poetafrancisgomes.blogspot.com

Francis Gomes

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