Estrofes do meu segundo cordel.
Malandro
Eu,
um cearense arretado
Analfabeto,
acanhado,
Que
mal aprendi ler.
Com
meu primo Evandro,
Fomo
da uma de malandro,
Veja
onde fui me meter.
Morando
no Ceará,
Nois
só falava por lá
Usando
a língua da gente,
Num
é que seja esquisita,
Mas
quem nos faz uma visita,
Ver
que é um tantim diferente.
Cumode, promode, pro donde,
Prá
quê, pro quê, pra donde,
E
querendo aprender gíria.
Eu
e o primo Evandro,
Ainda
se achava malandro...
Falando
estas aresia.
Era
coisa de família,
Fazendo
tanta estripulia
Ainda
dava uma de valente.
Com
uma peixeira na mão,
Prá
arrumar confusão,
Era
só mexer com a gente.
Por
exemplo, meu vô zuca,
Nervoso
igual uma mutuca,
Vivia
arrumando intriga,
Ô
bichim tu venha cá,
Num
vem não nontoce vá,
Seu
filho de rapariga.
Papai
era diferente
Vivia
aconselhando a gente
Pra
não fazer nada errado
Não
gostava de intriga
E
quando eu arrumava briga
Ficava
muito zangado
Ele
dizia lá em casa,
Formiga
que cria asa,
Procura
o que num perdeu.
Apois bem chegou à
hora,
Que
eu resolvi ir embora
Levando
o Evandro com eu.
Como
se eu ouvisse
Papai
ainda me disse
Filho
tu tome cuidado
Porque
você e Evandro
São
caipira, não malandro
Você
está enganado
O
mundo é bem diferente
Daqui
da terra da gente
Que
todo mundo lhe ama.
Eu
até ouvi dizer
Tem
gente que sabe ler
E
falar outro idioma.
Aqui
é o seu terreiro
O
mundo é um grande poleiro
Onde
outro canta de galo
E
você ó meu filhinho
Vai
ser apenas franguinho
Escute
o que eu te falo
Mas
eu todo chei de panca
Comecei
a botar banca
Zombando
da cara dele.
Achando
que era sábio
Dando
uma de otário
Arrespondi para ele
O
senhor pode está certo
Mas
eu sei que sou esperto.
E
ajuntando meus trapos,
Ainda
disse papai
Toda
cobra que num sai
Não
aprende engolir sapos.
Mal
eu tava sabendo,
Deus
tudo estava vendo
E
seu castigo num falha
E
todo filho que sai
Sem
escutar mãe e pai
Ele
sempre se atrapalha.
Fomo
pro Rio, de Janeiro,
Trabalhemo um mês
inteiro,
Só
pra entrar pelo cano.
Eu
e o Evandro, analfabeto,
Fomo
da uma de esperto,
Numa
boate de americano.
Falando
um tal de: corta essa,
Ai
mano, eu tô nessa,
Manda
ver. Qual é a tua?
Tô
de boa é minha sina,
Vou
descolar uma mina,
Prá
da um role na rua.
Sem
carro, prá começar,
Um
taxi fomos pegar,
Paguei
uma grana infame.
E
logo ao ir chegando,
Vi
num letreiro piscando,
American’s
drinks, welcome.
Já
fiquei meio cabreiro,
Vendo
naquele letreiro,
Dizendo
que wel come.
Vala
meu Deus do céu,
Quem
diabo é este wel,
Que
está com tanta fome!
Como
um cachorro assustado
Olhando
pra todo lado
Eu
fui me aproximando.
Quando
mais perto eu chegava
Mais
o letreiro piscava
Como
que me convidando.
Tava
escrito em uma porta,
Com
uma letra meio torta
Push,
enter, and have fun.
Enquanto
eu estava puxando,
Chegou
uma bichinha falando:
Excuse-me, excuse-me honey.
Dei-lhe
uma bofeta,
Que
ela caiu sentada,
-Help me, help me please.
Mas
num tem mermo que apanhar,
Pois
queria me agarrar,
Ainda
pergunta o que fez.
Eu
já todo apoquentado,
Chegou
outro apalermado:
Excuse-me guy, thenk you.
Sujeito
mal educado,
Vá
você seu desgraçado,
É
esta a educação do sul?
Apois
veja seu menino,
Ainda
dizem que nordestino,
É
quem num tem educação.
Um
sujeito bem trajado,
Até
bem aparentado,
Me
falando palavrão.
O
Evandro nesta hora,
Me
chamando prá ir embora,
Se
borrando como nunca.
Com
toda minha educação,
Eu
falei agora não,
Vou
entrar nesta espelunca.
Sem
esta de meia vorta,
Dei
um empurrão na porta,
E
acertei sem querer.
Num
era prá puxar,
O
tal push, é empurrar,
Mas
como eu ia saber?
Rapaz,
mas quando eu entrei,
Num
vou mentir, me assustei,
Quase
que me mijava.
Era
uma papagaiada,
Eu
num entendia nada,
Que
aquela gente falava.
Excuse me, sorry, I don’t know,
Bye, good -bye, let’s go,
Good, nice, beautiful, em fim,
Evandro,
ele falou pra eu,
Bichim nois já morreu,
E tamo com o coisa ruim.....Francis gomes.
tchekos@ig.com.br
www.poetafrancisgomes.blogspot.com
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