Histórias e tradições da literatura de cordel
Por Blog Acesso
Os cordéis são expostos em barbantes, nos quais ficam suspensos, e são comercializados, predominantemente, em regiões populares. No Nordeste, o contato é mais frequente e, muitas vezes, começa na infância. “O universo da literatura de cordel brasileira é povoado de histórias das tradições oral e escrita procedentes da cultura europeia. Ele firmou-se na cultura brasileira – e vem sendo construído continuamente – com o esteio de todo o universo simbólico e imaginário da cultura nordestina”, explica a pesquisadora e responsável pela coordenação de pesquisa doMuseu de Arte Popular do Recife, Maria Alice Amorim.
Melo lembra que lia as histórias de João Grilo, Canção de fogo com Pedro Malazarte, Camões, O Romance do Pavão Misterioso, entre outros. “O primeiro contato com o cordel foi oral, depois veio a escrita. Quando fui morar no Recife comecei a reler os folhetos, quando adolescente, e segui na fase adulta. Mas eu não fiquei marcado exclusivamente pelo cordel, acompanhei a era do boom dos gibis, comSuperman e todos os super heróis. Sou bom de misturar forró e rock”, conta Melo.
Já a pesquisadora começou a se interessar pelo cordel durante a adolescência, nas aulas de literatura brasileira, com uma professora cearense. O gosto do período escolar tornou-se objeto de estudo em 1980, quando Amorim passou a viver no Recife. “O cordel é uma poética de tradição oral, que se mantém viva, dinâmica, vigorosa, em processo. A relação com as novas tecnologias, a atuação de jovens escritores, a inserção de novos temas, a difusão mediante múltiplos meios, a formação e adesão de novos públicos, tudo isso demonstra como a literatura de cordel é cultivada no mundo contemporâneo. Sem perder características seculares, o cordel se adapta às demandas da contemporaneidade”, conta.
O também poeta e cordelista Francis Gomes mora na cidade de Suzano (SP), mas nasceu em Assaré (CE) e começou a ter contato com o cordel aos oito anos de idade, no sítio em que morava com pais. “Eu fui para a cidade estudar e, nas férias, quando eu voltava para ficar com eles, o pessoal pedia para eu ler os cordéis. A partir disso, sempre que eu voltava a história se repetia e eu passei a tomar gosto pela literatura de cordel. Além disso, como eu nasci na mesma cidade do Patativa do Assaré, eu sempre ouvi os programas em que ele recitava os poemas, os cordéis e a poesia matuta”, conta Gomes.
Gomes escreve contos e crônicas desde os 14 anos, mas começou a escrever literatura de cordel em 2007, com a história O Caipira Feio e a Acadêmia I.“Normalmente, quando eu escrevo cordel eu tenho dois objetivos principais: enaltecer a cultura nordestina e o povo nordestino. A partir daí, eu utilizo em quase todos os cordéis o linguajar regionalista, matuto mesmo. Nos meus primeiros cordéis é possível observar que há palavras erradas, mas faço de maneira proposital para retratar como o caipira fala”, explica.
Inicialmente, o cordel era feito por moradores da zona rural, mas, segundo Melo, a cultura tem se renovado e a literatura aborda novas temáticas comportamentais, acompanhando a atualidade. “Na década de 50, os cordelistas passaram a falar sobre fatos que ocupam as manchetes de jornais, sobre o que estava na mídia. Hoje, tem muita gente fazendo cordel na área urbana, com nível universitário e que teve influência dessa cultura. São cordéis que tratam de temáticas urbanas e questões da atualidade. Aqui temos, por exemplo, a Unicordel, movimento urbano que promove várias ações e desafios pela internet”.
Em São Paulo, Gomes atende diversos públicos, realiza palestras em escolas e participa de saraus que são realizados na cidade. “Nos meus cordéis, eu utilizo muito a linha cômica. É uma das formas de tocar as pessoas e atingir todos os públicos. A literatura de cordel se expandiu mais no Nordeste em forma de repente e embolada porque as pessoas não sabiam ler, então, para criar os seus cordéis, elas memorizavam. Hoje, é raro encontrar um cordelista que não seja de origem nordestina, ou que não tenha conhecido o cordel por seus pais ou avós”, explica.
Maria Alice Amorim reuniu um acervo com mais de 7300 obras de literatura de cordel. Hoje, todos os cordéis estão catalogados e as informações disponibilizadas no siteCiberteca de Cordel. “Decidi digitalizar e disponibilizar o meu acervo de cordel por considerar imprescindível oferecer acesso a pesquisadores e interessados. Para mim, pesquisadora, não faz sentido juntar esses preciosos documentos apenas para guardar, pelo fetiche do objeto. Além disso, é um material de uma riqueza inesgotável, uma pessoa jamais daria conta sozinha das inúmeras possibilidades do olhar curioso e atento sobre esta expressão artística”.
Nos cordéis, a linguagem poética, rimada e metrificada, aborda temáticas bastante diversificadas, explica Amorim. “Os temas abrangem ampla variedade, passam pelas histórias de cavalaria, contos orientais, romances de príncipe e princesa, narrativas tradicionais encontradas nos contos populares do mundo inteiro. Também todo o universo peculiar à cultura nordestina, com cangaceiros, beatos, anti-heróis, personagens, costumes, folguedos, danças, enfim, expressões artísticas das tradições culturais. Os assuntos mais explorados ainda hoje são os ‘acontecidos’, os ‘noticiosos’. Isso é curioso que se mantenha mesmo quando são hoje tão amplas as possibilidades de registro e difusão de notícias”.
Indicações de clássicos da literatura de cordel
Viagem a São Saruê; O pavão misterioso; O cachorro dos mortos; A Princesa da Pedra Fina; A Princesa sem coração; A bela adormecida no bosque.
Vídeos
http://vimeo.com/54583424
http://www.youtube.com/watch?v=6dKQTRQH3EU
Pamella Indaiá/Blog Acesso
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