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O menino cabrito
Foi no sítio mulungu
Cidade Farias Brito
Onde aconteceu um caso
Extremamente esquisito
Nasceu um pobre coitado
Com a feição de cabrito
A coisa foi mesmo feia
Na hora que ele nasceu
O sol se ocultou mais cedo
O dia escureceu
Igual na morte de Cristo
A terra também tremeu...
E naquele alvoroço
Correu a mãe da buchoda
Fazendo o sinal da cruz
Também pedindo ajuda
Dizendo vala me Deus
Que Santa Rita me acuda
...Mas quando a vó viu
O que estava nascendo
Se arrepiou de medo
E começou se tremendo
Fez logo o sinal da cruz
Gritou e saiu correndo...
...Mas na hora que nasceu
Até ela se assustou
Diferente do normal
O seu filho não chorou
E ao invés de chorar
O bebezinho berrou...
...E na carreira a velha
Tropeçou quase caiu
O marido disse sogra
O que a senhora viu
Os olhos esbugalhados
Falou e a voz não saiu...
...A mulher falou vem ver
Nosso filho que nasceu
Olha como é bonitinho
O presente que Deus nos deu
A boca parece a minha
E o nariz parece o teu...
...As orelhinhas caídas
O rostinho afilado
A boquinha meio murcha
O narizinho achatado
A cabecinha perfeita
Mas o pescoço alongado.
...Foram falar com o padre
Que concordou prontamente
Porém ele não sabia
Que o pobre inocente
Era metade cabrito
E outra metade gente...
Na hora que descobriram
O pobre do infeliz
O padre voltou atrás
E assustado não quis
Batizar mais a criança
Ali na igreja matriz
O padre não conseguiu
Disfarçar a assombração
Começou rezar um terço
Pra virgem da conceição
Vendo que o menino era,
Mais cabrito que cristão...
Francis Gomes
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