domingo, 16 de janeiro de 2011

O VAZIO DO MEU EU



Há dias que eu não sou eu, e que a vida parece mais amarga mesmo quando tudo em volta parece normal. E nestes dias enquanto os pássaros cantam na alvorada anunciando um novo dia, no meu eu, ainda é noite.
E quando o sol, rompendo o crepúsculo da manhã com seus raios fortes como quem sorrindo para iluminar a todos e banhar a terra de luz, o meu eu está nublado, com nuvens espessas e escuras.
Isso me faz lembrar o principio de tudo, quando a terra era  sem forma e vazia, e o espírito de Deus se movia sobre a face do abismo. Assim o meu espírito inquieto se move dentro do vazio que há em mim, e o meu coração parece o mais distante planeta da galáxia aonde a luz do sol não chega, a escuridão reina e tudo é gelado.
Nestes dias, as flores perdem as cores, a beleza, o perfume.  Não deixo de sorri, nem finjo um sorriso, mas o meu sorriso é triste e nem sei por quê! Ando entre a multidão e me sinto só, meus passo me levam aonde tenho que ir, e não aonde gostaria de ir, apesar de não saber onde quero chegar.
Martirizo-me com as perguntas, sem respostas, e com os sentimentos sem sentidos.
Não me entendo, quando quero tanto ser amado, ouvir alguém falar que me ama, fazer um carinho,  um cafuné, dá um abraço e me pegar no colo como seu eu ainda fosse uma criança, mas a pessoa que faz tudo isso, parece que não causa efeito. Sou duro como uma pedra, e oco como uma árvore seca em um deserto solitário.
Penso que sou ingrato com a vida, com o que a ela me dá com o que tenho. Penso que muitas pessoas desejam ter metade do que eu tenho para se feliz, e eu que tenho tudo, ou quase tudo, ainda não acho o suficiente. Na verdade o suficiente não tudo, é apenas uma pequena parte, que não sei em que parte do tudo ela se encontra. Procuro algo que tire de mim esta angústia que me chicoteia nestes dias, mas é em vão. A felicidade que eu quero o dinheiro não compra, amor que eu desejo a beleza não conquista, as palavras que eu quero ouvir os intelectuais não falam, o carinho quero, as mãos que me tocam não fazem.
Nestes dias, eu me pergunto: onde está o amor que os poetas cantam? Que sabor tem os beijos de sua musa? Onde encontram palavras tão lindas? E nestes dias vazios, percebo que a minha alma implora por um beijo, mas não o beijo que a minha boca recebe. Suplica migalhas de carinhos sem mesmo saber de quem. E é na inquietação do meu espírito no vazio do meu eu, eu não sou eu, e a vida parece mais amarga. Percebo que o que eu procuro é tão simples, mas tão simples, e estão nas coisas tão simples, que quando encontro não me entrego, não por medo, mas porque são apenas regras imposta pelo mundo que vivo, pela sociedade, talvez válida para o corpo, mas de nenhum proveito para alma.
A liberdade ou prisão do espírito é contrária a liberdade ou prisão do corpo. E quando estes dias passam, eu volto a ser o eu que a sociedade quer que eu seja, mas  não o que eu gostaria de ser, nem o eu, que me faz feliz. E assim a felicidade me aparece como rabiscos mal escritos, sem critérios, sem valor. E nestes dias onde o meu eu é tão vazio, talvez seja os dias em que sou mais cheio de vida e mais próximo da felicidade.




Francis Gomes.

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