Também sou gente
Eu falo sem
ter vergonha,
Se não posso
ser montanha,
Sou uma pedra
no sapato.
Mas eles
querem que eu morra,
Seja um
atleta e não corra,
Apanhe e
fique calado.
Eu vejo a
morte de perto,
E me dizem
que não é certo
Falar da
minha desgraça.
Sou tratado
como um bicho
Me alimento
de lixo,
E durmo em
banco de praça.
Chamam-me de
vagabundo,
Pé inchado,
porco imundo...
Por que não
vai trabalhar?
Bêbado pela a
esquina
Coloca a
culpa na sina,
Tem mesmo é
que se ferrar...
Mas eu vou
fazer o que?
Eu nunca
aprendi ler,
Trabalho
ninguém me dá.
Mas imagine
você,
Não tenho nem
pra comer,
Como é que eu
vou estudar?
Escola eu não
conheço,
Faculdade eu
desconheço...
Só vejo os
outros falar,
O que eu
passo é desumano,
E os direitos
humanos,
A onde diabo
ele estar?
FEBEM de
Tatuapé,
Cadeião de
Sumaré,
Pode ver ta
tudo lá.
Bandidos eles
defendem,
Pobres para
eles fedem,
É ou não é de
lascar?
Este é o
nosso regime,
Se o homem
comete um crime,
Tem o estado
para cuidar.
Enquanto é
negligente,
Matando o
povo inocente
Porque não
quer ajudar.
E querem que
eu me cale,
Morra e nada
fale,
Afinal, lixo
não fala...
Mas eu sou
lixo orgânico,
Daquele que
causa pânico,
E a nação se
abala.
Por isso eu
falo, falo e falo...
Morro e não
me calo,
Sou mesmo um
bicho,
Daqueles que tudo
come,
E pra não
morrer de fome,
Precisa viver
do lixo.
Restos de
comida, peixes crus,
Disputo com
os urubus,
Vira lata,
varejeira, em fim,
Onde o
dinheiro domina,
O que o homem
abomina,
É o que sobra
pra mim.
Ei, sou
pobre, sou desprezado,
Vivo por ai
largado,
Sou mais um
sobrevivente.
Sei que
pareço com um bicho,
Me alimento
de lixo,
Mas lembrem,
também sou gente.
Francis
Gomes
Nenhum comentário:
Postar um comentário