terça-feira, 20 de novembro de 2012


Os amigos do poeta



- Poeta, porque esta sozinho sentado?
Cabisbaixo, tão triste calado...
Porque choras?
Não eis tu, a eterna criança?
Sempre cheio de esperança?
E alegria, foi embora?

Cadê o brilho no olhar?
E seu sorriso, onde está?
Poeta, o que aconteceu?
Fica ai sozinho a esmo,
Você nem parece o mesmo,
E o poeta, morreu?

- Entre folhas e espinhos,
Falava meigo e baixinho,
Ao poeta, uma flor.
E na árvore bem ao lado,
Peito amarelo, estufado,
Um sabiá retrucou:

Como um maestro regia,
E em som de melodia,
Cantarolando falou:
- Levanta, levanta a cabeça poeta,
Me diz que tristeza é esta?
Cadê o cancioneiro do amor?

Veja a flor pobre coitada,
Entre espinhos sufocada,
Passa calor, chuva e frio.
E o orvalho da madrugada,
Deixa ela toda molhada,
Só em ver, eu me arrepio.

Dorme em pé não reclama,
Seja no seco, na lama,
Vem o sol quente, e lhe abrasa.
Além de viver tão pouco,
Às vezes chega um louco,
Arranca-a e leva pra casa.

Eu vivo de galho em galho,                                                                                       
Corto caminho, faço atalho,
Para escapar das pedradas,
Sem contar que meus filhinhos,
São levados dos meus ninhos,
E eu não posso fazer nada.

Mesmo assim, vivo a cantar,
Como a flor sem reclamar,
E você, por que reclama?
- Se diz mesmo meu amigo,
Escuta o que eu te digo-
E o poeta declama:

-  É duro viver entre espinhos,
E perder os seus filhinhos,
Sem nada poder fazer;
Mas, eu queria não ter cama,
Viver entre espinhos, na lama,
Pra ela vir me colher.

Não importa se eu morreria,
Mas eu teria a alegria,
De ter os carinhos dela,
Mesmo que fosse em um vazo,
Pequeninho, bem raso,
Pendurado na janela.

Ou que eu fora um sabiá,
Voar pra lá e pra cá,
Sem rumo sem direção.
Melhor fugir das pedradas,
Que fugir destas flechadas,
 Que acerta o coração.

Meu coração está ferido,
Estraçalhado, partido,
Sangrando de tanto amor.
Me diz, não é pra chorar?
Minha flor meu sabiá,
Meu sabiá minha flor.

Você sabiá, é o mastro da floresta,
E se a flor morre, há quem contesta;
A flor não morre, vira perfume.
Seja nos jardins, nas floretas,
As borboletas lhe fazem festas,
E  beija-flor que se assume.                                                                 

 Uma mistura de cores,
Surgindo entre as flores,
São elas as borboletas_
E no embalo do amor,
Surgia  um beija-flor,
No ar fazendo silhuetas.

Não ouviu o sino bater
Ontem ao entardecer,
Assim que a noite caiu?
A minha tristeza é esta,
Pois o amor do poeta,
Naquele instante, partiu.

Quem do poeta é amigo,
Façam silêncio comigo,
Dividam comigo esta dor.
Clamem ao onipotente,
Pra que Ele mande novamente,
O amor que de me levou.

A flor ao ouvir isto murchou,
O sabiá se calou,
E o poeta ficou mudo.
As borboletas pousaram,
Os beija-flores não voaram,
Fez-se um silêncio profundo.



Francis Gomes




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