quarta-feira, 24 de outubro de 2012



A maldição de Boqueirão dos Anjos

Boqueirão dos Anjos. Pequeno povoado que não se encontra no mapa do Brasil, nem pode ser localizado através do Google mapas ou GPS.
 A oeste da colina dos eucaliptos selvagens por onde corta as águas mansas do rio boqueirão, espelho natural da rainha da noite, musa dos poetas onde se olha para sair pomposa pelos céus azul e estrelado de Boqueirão dos anjos e o astro maior a beija diante a face do espelho antes de ser recolher.
Cantinho de gente pacata. Mulheres virgem de belezas selvagens como as matas ainda intocável pelo o predador das selvas de concreto. Lugar  de casas de barro e telhado de palhas de carnaúba.
 Lá o sertanejo ainda dorme em rede com portas e janelas abertas  ouvindo  o canto da cigarra e ao longe entres as sombras das folhas o vaga lume piscando. A lua entra sorrateira pela porta da frente e se desliza pela cozinha. As estrelas adentram pelas frestas  do telhado  de palhas  formando um céu de estrelas no chão de terra batida da casa do caboclo.
Nesta terra  os homens nasciam fortes e as mulheres formosas.  Os mancebos cresciam vigorosos e as virgens como árvores frondosas se adornavam com  colares que as mesmas produziam dos frutos da terra. Ali  podia com certeza afirmar  que Deus fez o homem a sua imagem e semelhança, na beleza, no pudor, na inocência na virtude de fazer o bem.
Por não conhecerem sua própria face, todos eram lindos. Qualquer  que nascesse com alguma coisa diferente dos demais, era considerado um sinal de beleza. Uma pinta no rosto, um olho vesgo, nariz grande ou pequeno, uma boca torta um braço encolhido uma perna manca. Acreditavam que aquilo era um propósito do onipotente  para que cada um tivesse sua beleza única por isso nasciam diferentes.
Ribeirão dos anjos foi por muitos anos o Israel de Deus. Até que um dia, não se sabe de onde nem como a maldição visitou aquele lugar.
 Conta às crônicas, foi o inimigo de Deus. Nas águas puras do rio  que cortava as colinas dos eucaliptos selvagens de boqueirão dos anjos, para causar discórdia, poluir a mente e abrir os olhos dos anjos( era assim que se chamava quem nascia em boqueirão dos anjos) para ver seus defeitos dantes nunca revelados.
Uma virgem ao tomar banho no boqueirão encontrou algo refletindo entre as pedras por onde corria as águas massas e cristalinas do rio. Ao  levar em sua direção viu uma imagem que nunca vira antes, além de  imitar tudo que ela fazia.
A moça correu para o povoado. Mostrou a mãe que assombrada mostrou ao marido, que mais doido ainda mostrou ao velho pai que quase desmaiou ao ver uma imagem tão diferente das que estava costumado ver, tão velha, tão feia, tão pavorosa.
Em pouco tempo, Boqueirão dos Anjos estava dividido. Os velhos achavam que aquilo era coisa do diabo para lhes assombrarem com aquelas imagens velhas de peles enrugadas. Os jovens acreditavam ser um presente de Deus para que eles  como o todo poderoso pudessem ver sua imagem e semelhança refletida como na criação do homem.
Com o passar do tempo foram percebendo que aquele objeto consumia as pessoas, assombrava a alma e atormentava o espírito.  Quanto mais olhava para ele, mais esquisita  ficava a imagem refletida  até definhar por completa.
Boqueirão dos Anjos nunca mais foi o mesmo, principalmente depois que Glôria, a virgem que encontrou o tal objeto casou e teve um filho. Aí Boqueirão dos anjos ficou inquieta, uma assombração geral, confirmando   que aquele objeto era realmente uma obra do diabo.
 Puseram-no em um saco preto para não mais refletir suas imagens esquisitas que ninguém sabia de onde apareciam  tantas, de crianças a velhos. Jogaram o obejeto  nas águas mais profundas do Boqueirão  para que nunca mais pudesse ser encontrado.
Correu o boato. Glôria havia sido amaldiçoada por levar aquela coisa maligna para seu povo por isso foi castigada pelo todo poderoso dando a luz a uma criatura antes nunca vista em boqueirão dos anjos, nem mesmo entre os animais.
Saiu das entranhas da virgem uma coisa mirrada,  franzina, tísica, de orelhas desenvolvidas, cabeça grande e beiço caído.
À medida que o tempo passava. A criatura crescia com uma pobreza lastimável de músculos, braços esqueléticos e pernas bambas. O pescoço não podia com o peso da cabeça, o globo ocular não cabiam às pupilas dos olhos e as extremidades das orelhas funcionavam como barreiras para o canto da boca.
O coitado não teve nome ou pelo menos  seu nome de batismo não foi citado nas crônicas, à maldição de boqueirão dos Anjos. Pelos braços esqueléticos e logos e as pernas aquelas varetas tísicas, alguns o chamavam de polvo, mas o infeliz encasquetava de falar para todos que apesar daquela aparência ele era normal e também era um brasileiro como todos os outros.
Aquele que nasceu de uma linda virgem, em uma terra rica e iluminada, de vales fecundos a oeste da colina dos eucaliptos selvagens por onde cortavam mansamente as águas doces do rio boqueirão, passou a ser chamado polvo brasileiro, o fruto do espírito das multi faces deflorador de virgens, que surgiu nas águas mansas do boqueirão.
Segundo os últimos relatos das crônicas, a maldição de Boqueirão dos Anjos, este espírito se espalhou por todas as águas do mundo, e hoje vive atormentando as pessoas com suas multi faces e  as imagens esquisitas que refletem nele.



Francis Gomes





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