A
maldição de Boqueirão dos Anjos
Boqueirão dos
Anjos. Pequeno povoado que não se encontra no mapa do Brasil, nem pode ser
localizado através do Google mapas ou GPS.
A oeste da colina dos eucaliptos selvagens por
onde corta as águas mansas do rio boqueirão, espelho natural da rainha da
noite, musa dos poetas onde se olha para sair pomposa pelos céus azul e
estrelado de Boqueirão dos anjos e o astro maior a beija diante a face do
espelho antes de ser recolher.
Cantinho de
gente pacata. Mulheres virgem de belezas selvagens como as matas ainda
intocável pelo o predador das selvas de concreto. Lugar de casas de barro e telhado de palhas de
carnaúba.
Lá o sertanejo ainda dorme em rede com portas
e janelas abertas ouvindo o canto da cigarra e ao longe entres as
sombras das folhas o vaga lume piscando. A lua entra sorrateira pela porta da
frente e se desliza pela cozinha. As estrelas adentram pelas frestas do telhado
de palhas formando um céu de
estrelas no chão de terra batida da casa do caboclo.
Nesta terra os homens nasciam fortes e as mulheres
formosas. Os mancebos cresciam vigorosos
e as virgens como árvores frondosas se adornavam com colares que as mesmas produziam dos frutos da terra.
Ali podia com certeza afirmar que Deus fez o homem a sua imagem e
semelhança, na beleza, no pudor, na inocência na virtude de fazer o bem.
Por não conhecerem
sua própria face, todos eram lindos. Qualquer
que nascesse com alguma coisa diferente dos demais, era considerado um
sinal de beleza. Uma pinta no rosto, um olho vesgo, nariz grande ou pequeno,
uma boca torta um braço encolhido uma perna manca. Acreditavam que aquilo era
um propósito do onipotente para que cada
um tivesse sua beleza única por isso nasciam diferentes.
Ribeirão dos
anjos foi por muitos anos o Israel de Deus. Até que um dia, não se sabe de onde
nem como a maldição visitou aquele lugar.
Conta às crônicas, foi o inimigo de Deus. Nas
águas puras do rio que cortava as
colinas dos eucaliptos selvagens de boqueirão dos anjos, para causar discórdia,
poluir a mente e abrir os olhos dos anjos( era assim que se chamava quem nascia
em boqueirão dos anjos) para ver seus defeitos dantes nunca revelados.
Uma virgem ao
tomar banho no boqueirão encontrou algo refletindo entre as pedras por onde
corria as águas massas e cristalinas do rio. Ao levar em sua direção viu uma imagem que nunca
vira antes, além de imitar tudo que ela
fazia.
A moça correu
para o povoado. Mostrou a mãe que assombrada mostrou ao marido, que mais doido
ainda mostrou ao velho pai que quase desmaiou ao ver uma imagem tão diferente
das que estava costumado ver, tão velha, tão feia, tão pavorosa.
Em pouco tempo,
Boqueirão dos Anjos estava dividido. Os velhos achavam que aquilo era coisa do
diabo para lhes assombrarem com aquelas imagens velhas de peles enrugadas. Os
jovens acreditavam ser um presente de Deus para que eles como o todo poderoso pudessem ver sua imagem e
semelhança refletida como na criação do homem.
Com o passar do
tempo foram percebendo que aquele objeto consumia as pessoas, assombrava a alma
e atormentava o espírito. Quanto mais
olhava para ele, mais esquisita ficava a
imagem refletida até definhar por
completa.
Boqueirão dos
Anjos nunca mais foi o mesmo, principalmente depois que Glôria, a virgem que
encontrou o tal objeto casou e teve um filho. Aí Boqueirão dos anjos ficou
inquieta, uma assombração geral, confirmando
que aquele objeto era realmente uma obra do diabo.
Puseram-no em um saco preto para não mais
refletir suas imagens esquisitas que ninguém sabia de onde apareciam tantas, de crianças a velhos. Jogaram o
obejeto nas águas mais profundas do
Boqueirão para que nunca mais pudesse
ser encontrado.
Correu o boato. Glôria
havia sido amaldiçoada por levar aquela coisa maligna para seu povo por isso
foi castigada pelo todo poderoso dando a luz a uma criatura antes nunca vista
em boqueirão dos anjos, nem mesmo entre os animais.
Saiu das
entranhas da virgem uma coisa mirrada,
franzina, tísica, de orelhas desenvolvidas, cabeça grande e beiço caído.
À medida que o
tempo passava. A criatura crescia com uma pobreza lastimável de músculos,
braços esqueléticos e pernas bambas. O pescoço não podia com o peso da cabeça,
o globo ocular não cabiam às pupilas dos olhos e as extremidades das orelhas
funcionavam como barreiras para o canto da boca.
O coitado não
teve nome ou pelo menos seu nome de
batismo não foi citado nas crônicas, à maldição de boqueirão dos Anjos. Pelos
braços esqueléticos e logos e as pernas aquelas varetas tísicas, alguns o
chamavam de polvo, mas o infeliz encasquetava de falar para todos que apesar
daquela aparência ele era normal e também era um brasileiro como todos os
outros.
Aquele que
nasceu de uma linda virgem, em uma terra rica e iluminada, de vales fecundos a
oeste da colina dos eucaliptos selvagens por onde cortavam mansamente as águas
doces do rio boqueirão, passou a ser chamado polvo brasileiro, o fruto do
espírito das multi faces deflorador de virgens, que surgiu nas águas mansas do
boqueirão.
Segundo os
últimos relatos das crônicas, a maldição de Boqueirão dos Anjos, este espírito
se espalhou por todas as águas do mundo, e hoje vive atormentando as pessoas
com suas multi faces e as imagens
esquisitas que refletem nele.
Francis Gomes
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