Insônia
Tenho para mim se a insônia fosse uma coisa que pudesse controlar seria muito bom ter insônia, não sempre, mas de vez em quando, uma ou duas vezes por semana, dez, quinze ou vinte minutos por noite. Pena que não se pode controlar, e torna-se um suplício para quem sofre deste mal. Digo isto porque há muito tempo não sei o que é uma noite de sono, daquelas que a gente deita e só acorda no outro dia, tenho saudades de dormir bem, sonhar, levantar tarde.
No começo eu ficava sem dormir, alguns minutos, gostava, até agradecia a Deus quando eu acordava durante a noite por alguns vintes minutos. Mas agora, sofro só em pensar que a noite se aproxima. Ás vezes chegava cansado em casa, tomava um banho, e dormia. De repente acorda no meio da noite, ficava ouvindo o barulho dos carros, as pessoas que passavam conversando na rua. Será a aonde vão? De onde veem a esta hora da noite? Risos. Devem está felizes. Eu pensava. Cachorros latindo, e eu viajava. Até o barulho dos aviões que de vez em quando passava, eu gostava de ficar ouvindo, imaginado que velocidade estaria quantas pessoas estariam viajando, para onde estaria indo ou vindo sei lá.
Mas o melhor quando se acorda a esta hora da noite, é se por a pensar nas coisas que a gente faz durante o dia, o que fez certo, errado, onde poderíamos melhorar. Aí é que se ver o quanto Deus é generoso com a gente. Eu punha-me a pensar, como era gostoso está àquela hora, em minha cama, com meus cobertores quentinhos, protegido do vento gelado que sobrava lá fora, batendo a minha janela. Oh! Meu Deus! Quantos não estavam em baixos de viadutos, pontes, dormindo nas calçadas vestidos em uns fiapos de roupas, e cobertos de jornais. Jornais que muitas vezes esboçavam nas capas as mordomias dos ricos, enquanto os miseráveis mendigam migalhas, um pedaço de pão e disputam um lugar para dormir nas calçadas frias e molhadas pela neblina que cai.
E quando a chuva cai, meu Deus, como é maravilhoso ouvir o barulho da chuva nas telhas, aquecido em baixo dos cobertores, mas é triste saber que lá fora, na intermitente garoa, outros se embriagam para aquecerem seus miseráveis corpos para não morrem de frio. Na correria do dia a dia, nem sempre pensamos no próximo de forma tão humana quando pensamos em nosso leito. Seria bom que todos pudessem ter vinte minutos de insônia, uma ou duas vezes por semana.
O grande problema é que ela não dura tão pouco, e nem faz tanto bem para a maioria das pessoas, dura noites e mais noites, e faz um mau terrível.
Hoje eu não durmo nada, a noite é muito longa parece que não tem fim, quanto mais busco o sono mais ele foge de mim. Dizem que assistir televisão dá sono, mentira, pelo menos comigo isto não acontece, só piora. Fico neste liga desliga, e nada. Levanto começo ler um livro e nada, vou mexer no computador, nada. Volto pra cama nada do sono. As conversas na rua já na me interessam mais, aborrecem-me, o barulho dos aviões, do galo cantando, é um suplício.
De tanto tempo acordado sem dormir, meus olhos parecem ter secado, até para chorar tenho dificuldade, as lágrimas não vêem, mas uma dor de cabeça de enlouquecer, esta, quase todos os dias está presente, deve ser parente da insônia, quando não chegam juntas, uma ataca a noite e a outra durante o dia, parece que têm um pacto, atormentar-me dia e noite.
Francis Gomes
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