Na cidadezinha onde eu cresci, as crianças brincavam nas calçadas, corriam nos jardins das pequenas praças. As nuvens brincavam de pique- esconde com o sol, o céu era tão azul que doía nos olhos e as noites estreladas indescritíveis, de tão bela.
A lua rainha da noite reinava absoluta como se abraçasse cada colina, visitando cada sobra, iluminando as partes mais profundas do solo, enquanto vadios pirilampos passeavam por entre as folha. Os casais enamorados nos banquinhos das praças entre beijos e carícias faziam planos para o futuro. Enquanto tudo isso acontecia, um o velho relógio na coluna no centro da cidade registrava tudo.
Ele não contava os minutos, nem somava as horas, meditava cada segundo, entristecido. Em suas badaladas parecia que chorava prevendo o futuro em que tudo aquilo ficaria no esquecimento, como um retrato velho em preto e branco desbotado pelo tempo onde as imagens só tomam vida e cores nas lembranças de quem foge do presente, e com medo do futuro, volta ao passado para ser feliz.
E o velho relógio de hora em hora, com suas badaladas anunciava como os profetas anunciavam a vinda de Cristo, que o tempo estava próximo, até que chegou.
E hoje, muitos dizem que gostaria de viajar para, New Yorque, Londres, Madri, Tókio etc.
Enquanto eu gostaria de voltar à cidade onde vivi, Farias Brito de minha infância, de meus sonhos de criança, para correr pelas ruas, por cada beco, tomar banho no Carius, jogar bola no campo, e depois deitar em baixo do velho pé de cajá, sem camisa de braços abertos, sentido o vento, olhando as nuvens correndo, até chegar à noite, para contar estrelas, e pegar vaga lumes.
Oh meu Deus, e não posso. Ela não existe mais, o progresso a destruiu. Derrubaram o pé de cajá, as crianças não brincam mais nas praças, e nem querem, o negócio agora é celular, computador, internet, o mundo eletrônico, o desenvolvimento, a globalização, acabou com a infância feliz das crianças de minha cidade. Só o velho relógio continua na velha coluna, esquecido como um ancião sábio de cabelos brancos profetizando para as próximas gerações sabe-se lá, Deus o que.
Francis Gomes
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