segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Informações equivocadas sobre a literatura de cordel e o repente de viola


            Aqui você vai encontrar uma relação dos erros  sobre o cordel e o repente


- O FOLHETO BRASILEIRO PODE SER ESCRITO EM PROSA OU EM VERSO?

 Nunca! O cordel brasileiro é invariavelmente escrito em versos. A literatura de cordel ibérica é que poderia ser, tanto em prosa como em verso.

- CORDEL E REPENTE SÃO AS MESMAS MANIFESTAÇÕES?

Não! A literatura de cordel e o repente são duas manifestações distintas, embora interligadas.

O cordel é diferente
Do repente improvisado
O cordel é sempre escrito
Em folheto e declamado
O repente é improviso
Sem ter nada decorado.

(Estrofe retirada do livro "Vida Rima com cordel" Ed. Salesiana.)

- O IMPROVISO DO TIPO "EMBOLADA", FEITO AO SOM DE PANDEIROS, SEGUE AS REGRAS DO CORDEL?

Não! A manifestação de improviso que deu origem à literatura de cordel, é a cantoria feita com viola, não com pandeiro. Existem muitas outras formas de improviso poético pelo Brasil (Cururu, Rap, Partido alto, etc) cada um desenvolvido em uma região e com características e tradições próprias.

- OS FOLHETOS DE CORDEL SÃO FEITOS EM PAPEL DE PÉSSIMA QUALIDADE?

. Não! Hoje em dia os poetas utilizam o melhor recurso gráfico possível para a impressão dos seus folhetos.

- A LITERATURA DE CORDEL É ASSIM CHAMADA PELO FATO DOS FOLHETOS SEREM EXPOSTOS PENDURADOS EM BARBANTES E VENDIDOS EM FEIRAS DO NORDESTE BRASILEIRO?

Não! A frase estaria certa se terminasse assim: "A literatura de cordel é assim chamada pelo fato dos folhetos serem expostos pendurados em barbantes e vendidos em feiras em Portugal. No nordeste, o nome dado é "folhetos" ou "romance". No Brasil, muitos cordelistas não perpetuaram a tradição de pendurar folhetos em barbantes e vendiam seus folhetos em bancas, no chão, etc.

- TODO CORDEL TEM ILUSTRAÇÃO EM XILOGRAVURA?

 Muitos tem, outros não. Embora a xilogravura esteja umbilicalmente ligada aos folhetos de cordel.
- Repente é o desafio de cantadores. Esta é apenas uma das mais de cinqüenta modalidades do universo da cantoria nordestina.

- TODO REPENTISTA É NORDESTINO?

 Não! Temos inúmeras manifestações de improviso poético por todo o Brasil, América Latina, Europa, Ásia, enfim, por todo o mundo...

             
MODALIDADES DA CANTORIA DE REPENTE E DA LITERATURA DE CORDEL

 

            Seguem algumas modalidades deste rico universo da poesia popular rimada e metrificada. Vale lembrar que são mais de 50 modalidades catalogadas. Seguem alguns exemplos:

Conisdere: "X" versos livres e "A", "B", "C" e "D" versos que rimam entre si.

Sextilha (7 sílabas. Posição das rimas: XAXAXA)

“Eu aqui tenho vontade
De fazer profundo estudo
Despertar a Charles Chaplim
Gênio do Cinema Mudo
Não dizia uma palavra
E o povo entendia tudo” (Daudeth Bandeira, repentista, cantado os gênios da humanidade)

Sempre tenha preferência
Por produtos mais duráveis
Sempre que possível evite
Os produtos descartáveis
Valorize e divulgue
As empresas responsáveis.

 (do livro “Aquecimento Global não dá rima com legal”  Ed. Moderna)

Uma sextilha com diálogos...

- Mas manhê, eu falo sério
Eu prometo, vou cuidar.
- Olha o ovo em que moramos
Não é pra um bicho ficar!
Eu trabalho o dia todo
E não tenho tempo, Oscar.
 (do livro "O Cachorro do menino" - Ed. Moderna)

Setilha- (7 sílabas. Posição das rimas: XAXABBA)
“Os seus filhos são heróis
Nesse solo abençoado
Onde Leandro fez verso
E nasceu Celso Furtado
Aqui eu fiquei hilário
Com a festa do Rosário
Que é a melhor do estado.”

 (Severino Feitosa, repentista, cantando as maravilhas da cidade de Pombal)

O leitor vira ouvinte
O escritor, menestrel
O ouvido vira voz
Neste eterno carrossel
Pois apresento agora
Com carinho e sem demora
Minhas Rimas de Cordel"

 (do livro "Minhas Rimas de Cordel"- Ed. Moderna)

E o que causa a emissão
Desses gases violentos?
As queimadas das florestas
Que só causam sofrimentos
As indústrias e os veículos
Somos mesmo tão ridículos
Poluindo nossos ventos.

(do livro “Aquecimento Global não dá rima com legal”  Ed. Moderna)

Oitava (7 sílabas. Posição das rimas: XAABXCCB)

Não nos resta a menor dúvida
De que estamos aquecidos
Pelos gases emitidos
De uma forma tão insana
Que aumenta o efeito estufa
E qual é o resultado?
O planeta é abafado
Por ações da mão humana.

 (do livro “Aquecimento Global não dá rima com legal”  Ed. Moderna)

Oitava (7 sílabas. Posição das rimas: AAABBCCB

Os aterros e lixões
Já não têm mais condições
Pois recebem caminhões
Com caçambas carregadas 
Sem somar as toneladas
Repetimos velhos erros
E lotamos os aterros
Esperanças enterradas.

 (do livro “Aquecimento Global não dá rima com legal”  Ed. Moderna)

Desafio em mourão (7 sílabas. A posição das rimas: XAXABBA)

Poeta A:
Vou pegar o cantador
Que sentou-se do meu lado

Poeta B:
Mas você não tem valor
Pra fazer improvisado

Poeta A:
Você não dá pra cantar
É melhor aposentar
E voltar para o roçado.

Décima com mote em sete sílabas (Posição das rimas: ABBAACCDDC)

mote: Vou mostrar para vocês
Como é o mote em sete

Já cantei o bom martelo
Já cantei muitas sextilhas
Já falei de maravilhas
De princesas e castelo
Fabriquei um bom duelo
Publiquei na internet
Minha rima não repete
Porque tenho rapidez
Vou mostrar para vocês
Como é o mote em sete

Outro exemplo, mote de uma linha:
Se o planeta é ameaçado
Pelo homem é agredido
Nosso ar é poluído
Respirar é complicado
Até água, o bem sagrado
Vai findar, não vamos ter
O que nós vamos beber
Sem ter água bem potável?
Sem ter lixo reciclável?
O futuro, o que vai ser?

(do livro "Vida Rima com Cordel" - Ed. Salesiana)
 Décima sem mote

Esse mito bem rimado
Vem lá do sul do país
Desse escravo infeliz
E o patrão muito malvado
Com seu filho lado a lado
Judiavam do negrinho
Mesmo sendo um rapazinho
Mais que adulto trabalhava
Por qualquer coisa apanhava
Mas chorava caladinho.

(do livro "Mitos Brasileiros em cordel" - Ed. Salesiana)

Martelo

O cordel é também literatura
Que nasceu no Nordeste brasileiro
Bem rimada e falada o tempo inteiro
O retrato perfeito da cultura
Sua capa é feita em xilogravura
Bem talhada num taco de madeira
O folheto dá a forma verdadeira
Às histórias que sempre são impressas 
Com cordel o poeta junta as peças 
Pra fazer coisa séria e brincadeira.

 (do livro "Mitos Brasileiros em cordel" - Ed. Salesiana)

Martelo alagoano (10 sílabas, 10 versos. Posição das rimas: ABBAACCDDC.

A toada eu acho tão bonita
Ritmada e também muito gostosa
De maneira perfeita e caprichosa
Quando canto o meu peito se agita
A minha alma que vibra e só palpita
Por que gosto do jeito soberano (sempre rima em "ano")
Sou poeta perfeito e veterano (sempre rima em "ano")
Que nasci pra fazer o improviso
Tirar verso da mente e do juízo
E lá vão dez de matelo alagoano. ( essa última linha, obrigatoriamente terminará em "alagoano", mas o texto pode ser "E tome dez de martelo alagoano")

Galope à beira mar

"Eu acho engraçado um poeta de praça
Que passa dois meses fazendo um quarteto
Com um ano de luta, é que finda um soneto
Depois que termina, ainda sem graça
Com tinta e papel, o esboço ele traça
Contando nos dedos pra metrificar
Que noites de sono ele perde a pensar
A fim de mostrar tão minguado produto
Pois desses, eu faço, dois, três, num minuto
Cantando galope na beira do mar."

Posição das rimas: ABBAACCDDC. Nesta modalidade o último verso deve terminar com a frase “Beira do mar” Ou “Beira mar” (autor: Dimas Batista. Interessante notar o pensamento do poeta improvisador, frente ao que escreve)


Oralidade de Cordel
 

            O cordel só toma vida quando dito! E que seja sempre bem dito! Falado, cantado ou interpretado, não importa! Diga um verso de cordel e comprove! É impossível ler um cordel em "voz baixa". Solte a voz, a emoção e o corpo! A literatura de cordel foi muito vendida em feiras do interior do nordeste. Claro que o poeta deveria utilizar de muita expressão e energia para fazer com que sua história ficasse muito interessante para convencer seu público a comprar seu folheto.

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