sábado, 20 de abril de 2013



Peripécias do tempo


Será que se ela lembrasse todas as loucuras de amor que fiz por ela, faria diferente? Talvez até se envergonhasse dos micos que paguei por amor.
Se ela lembrasse das noites mal dormidas, e muitas outras em claro, dos dias de trabalho dobrado para tentar dá o melhor para ela.
De minhas lágrimas quando ela ficava doente, do meu sorriso umedecido de felicidade quando sorria para mim falando que me amava.
Será se ela lembrasse o primeiro abraço, do primeiro beijo, da primeira noite juntos, eu nem dormi só lhe admirando. Será que faria diferente?
Ah! Talvez se ela lembrasse dos nossos primeiros três anos juntos. Do quanto ela dependia de mim e eu sempre presente, quem sabe faria diferente. Mas agora não depende mais de mim.
Eu não sei o motivo, apenas sei que destes momentos ela não lembra.
Mas para manter viva a chama deste amor, hoje muitos anos depois, velho cansado, vivo brigando com o tempo para que ele não apague de minha memória o que nunca permitiu que ela lembrasse.
Do primeiro sorriso,
Do sorriso sem dente,
Do primeiro dentinho que nasceu,
Dos beijos estalados em minha face,
Dos primeiros passinhos que ela deu,
Daquelas mãozinhas pequenas segurando a minha,
Das primeiras palavras,
Da primeira vez que me chamou de pai,
E dos bracinhos erguidos aos céus, “cola, papai, cola pai, cola”.
Ah!  Minha filha, talvez se você lembrasse disso não me deixaria abandonado deste asilo vivendo apenas das lembrasse, lutando para o tempo não apagar de mim o que nunca permitiu você lembrar.
A espera de um abraço que não vem,
Querendo ouvir novamente, papai colo, cola papai.
As lágrimas teimosas correm sem Cesar molhando meu rosto,
Mas quero que saiba eu faria tudo de novo, porque o meu amor por você ele é incondicional.
E este amor, este amor será para eternidade
Eu morrerei, mas teu amor comigo vai
Para sempre tu serás a minha filha
E após a morte ainda serei teu pai.

Francis Gomes

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